Congresso Espírita do DF encerra com vibrações de esperança e fé

Um novo olhar sobre a mediunidade e a dor, sob o consolo dos ensinos espíritas, fortalece os corações dos participantes no último dia de evento.

Se tem uma lição que a pandemia nos ensinou até hoje é que realmente não estamos sós. Mesmo com os impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e nos sistemas de saúde da Covid-19, a solidariedade e o empenho por dias melhores nunca deixaram de prevalecer. O amparo espiritual sempre esteve presente. Ainda que esse cenário pandêmico exponha as vulnerabilidades do nosso país, a saúde mental e emocional das pessoas nunca foi tão importante em todos os tempos. E nós, espíritas, temos um grande dever de colaborar na elevação da vibração do nosso planeta, auxiliando o trabalho da Espiritualidade Maior. Em vista disso, o presidente da Federação Espírita do Distrito Federal, Paulo Maia, destacou nesta sexta edição do Congresso Espírita do Distrito Federal – em formato on-line – como cada um é importante na regeneração da Terra.

Paulo Maia, em sua fala final, relembrou a importância de continuar ajudando financeiramente as instituições espíritas e fazendo doações, pois os trabalhos permanecem. “Embora as Casas Espíritas estejam fisicamente fechadas, as atividades continuam. As famílias assistidas continuam sendo assistidas e até com mais necessidades”, informou.

O encerramento do evento, neste domingo, 18/4, contou com dois momentos de palestras, tendo dois expositores em cada bloco. Ao todo, o Congresso reuniu virtualmente cerca de seis mil pessoas e celebrou os 160 anos de O Livro dos Médiuns.

ESTUDO E RESPONSABILIDADE
Mediunidade na juventude? Com essa pergunta instigante, os expositores Carlos Campetti e Saulo Silva iniciaram a palestra da manhã. Logo na abertura, reforçaram a função educativa da mediunidade e o estudo como uma medida segura e saudável para o desenvolvimento mediúnico em todas as fases da vida, principalmente na juvenil. Comentaram, ainda, que a faculdade mediúnica nos jovens é natural, não devendo ser vista como algo fora do padrão. “A mediunidade é um instrumento de comunicação entre os dois planos de vida. Esteve presente sempre na história da Humanidade. Desde que existiram os seres, existe a mediunidade, tanto no plano espiritual quanto no terreno”, explicou Carlos.

Nessa mesma linha de pensamento, Saulo complementou quanto à naturalidade da faculdade, mas ressaltou que “naturalidade não significa a ausência de estudo, aplicação e responsabilidade. Não é levar de qualquer forma. Ela precisa do elemento fundamental que é a educação”.

Carlos comentou que, segundo O Livro dos Médiuns, a mediunidade depende do desenvolvimento físico e moral do indivíduo, ou seja, “tem uma relação com a questão orgânica, mas principalmente com a questão moral”. Ele esclareceu que, independente da idade da pessoa, a mediunidade não deve ser tratada como brinquedo. “Espíritos superiores não se dedicam a brincadeiras. Eles agem seriamente com a faculdade mediúnica, que é utilizada como instrumento de educação da Humanidade”.

Campetti relembrou que Allan Kardec contou com a apoio de quatro jovens médiuns no trabalho da Codificação Espírita, situação esta vista com muita descriminação na época do codificador, principalmente mulheres com mediunidade na juventude.

Tanto Carlos quanto Saulo recordaram que, na história, sempre houve jovens médiuns, a começar pelos profetas. Citaram alguns vultos importantes nesse despontar da mediunidade juvenil: Francisco de Assis, Joana d'Arc, Antônio de Pádua, Vicente de Paulo, Irmãs Fox, Florence Cook, Chico Xavier, João Evangelista, Timóteo.

“A mediunidade é um compromisso sagrado. Se você é jovem e sente o despertar da mediunidade, é preciso buscar o entendimento da faculdade. Ela pode vir por várias razões, mas é sempre uma oportunidade de serviço ao próximo e foi programada antes da reencarnação”, convidou Campetti ao estudo sério, aprofundado, metódico e continuado da mediunidade. “Começando pelo estudo, para conhecer a teoria antes de ir à prática. O estudo é fundamental para a compreensão”, acrescentou.

Por fim, ele deu algumas dicas aos jovens de como desenvolver a faculdade mediúnica: “leia, estude, tenha perseverança, não duvide que você possa, mas seja humilde e aceite a orientação daqueles que têm mais experiência, porque o melhor caminho é unir a impetuosidade da juventude com a experiência dos mais velhos para ser encaminhado a um exercício equilibrado da mediunidade e produtivo para todos”.

Esse casamento de juventude e experiência também é defendido por Saulo. Para ele, pais e Centro Espírita precisam estar presentes nesse desenvolvimento mediúnico do jovem para ampará-lo e o orientar. “Estamos permeados por aqueles que nos amam, envolvidos no mundo espiritual, mas a mediunidade merece o nosso estudo, a nossa responsabilidade e uma aplicação útil”, disse.

Saulo, ainda em sua exposição, alertou que “a função educativa da mediunidade não é só educação para os outros, mas é sobretudo a educação do médium, em qualquer fase da vida em que ele esteja”. Em contato com o mundo espiritual, se faz preciso estudar, entender essa relação, para que não cair em problemas graves.

“A mediunidade é uma porta mental aberta”, advertiu. Segundo ele, se não cuidarmos da nossa casa mental, do nosso equilíbrio emocional, Espíritos indesejáveis podem invadir e fazer morada. “Para que a gente desenvolva a mediunidade, é preciso estudar, dar uma aplicação útil a essa faculdade senão, do contrário, ela pode abrir portas para indivíduos mal-intencionados”.

Para Silva, o papel da faculdade mediúnica na juventude tem de ser algo positivo, de consolo, “mediunidade não é para o sofrimento, mediunidade é para o crescimento”.

SUAVE CAMINHO DA DOR
Com a palestra Espiritualidade e superação da dor, os expositores Rossandro Klinjey e Simão Pedro fecharam o Congresso. Destacaram o caráter pedagógico da dor. “O sofrimento não faz parte do propósito de Deus para a nossa vida”, alertou Rossandro. Segundo ele, o sofrimento tem duas origens: o passado reencarnatório e a resistência em evoluir (a não mudança de atitude no presente).

Klinjey desmistificou que os espíritas pregam o sofrimento. “Não pregamos o sofrimento, apenas dissemos que o sofrimento existe. Negá-lo é uma alienação, é uma visão infantilizada de viver a experiência humana”, complementou. Para ele, aceitar que o sofrimento existe não significa que, sem ele, a evolução não acontece. Nos estágios evolutivos em que estamos, ainda necessitamos do sofrimento “como alavanca do desenvolvimento emocional”, as dores são estímulos para o progresso do ser.

Com relação a isso, Simão Pedro teve ideia semelhante. Para ele, os espíritas não gostam de sofrer, mas sim sofrem com gosto. “Gostar de sofrer é um processo de autocomiseração, vitimismo, entrega, derrota. O sofrer com gosto é perceber que há caminhos de entrada e saída, é analisar que há meios para superação, lidar com aquilo que podemos lidar e saber aguardar aquilo que ainda não podemos resolver, podemos chamar de resignação. Resignar-se não é acomodar-se, é saber aguardar o momento certo para agir”, elucidou. Para ele, o sofrimento nos leva a uma maturidade emocional. “Sofrer com gosto ou sofrer com inteligência é sofrer menos, é passar menos tempo na dor, porque a gente vai imediatamente para o aprendizado”, Klinjey quis acrescentar sua visão também.

Nessa linha de pensamento, Rossandro falou sobre fazermos uma curadoria emocional. “Saber que a gente tem de ter um filtro para não contaminar nossa mente e não entrar num processo de destruição psíquica”, comentou. Gastarmos as nossas energias criadoras naquilo que de fato conseguimos mudar e não naquilo que não podemos atuar.

Sobre a pandemia, Klinjey orientou que, na situação atual em que estamos voltados mais para o lar, precisamos saber lidar com nossa relação familiar, nosso estresse de adaptação, nosso medo, nossa angustia, ou seja, sanar a dor que depende de nós. “Neste momento que estamos vivendo, muitas pessoas estão aprofundando o contato com o Sagrado”, analisou. Estamos buscando uma profunda intimidade com Deus, porque precisamos “entender que a dor e o cansaço têm uma consolação”.

Ele citou um comentário de Léon Denis: “O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação. Aplicando o ouvido, quase escutareis o ruído de sua obra”. Segundo Rossandro, temos até o direito de mal sofrer, podemos passar pelo desespero, mas não podemos estacionar na dor, precisamos aprender, entender e seguir em frente. Necessário se faz resignificar a dor, “ela é tão somente processo de aprendizagem”.

Já Simão Pedro, em sua explanação, ponderou que o sofrimento não é uma causa, mas sim uma consequência. “Consequenciais a escolhas que fazemos, a atos que praticamos e a maioria deles nesta reencarnação. Tudo faz parte da dinâmica, da didática de Deus e não é uma imposição, uma punição”. Precisamos lidar com as causas dos sofrimentos e não “muquerelar: murmurar, queixar, reclamar e lamentar”.

Simão citou que no livro Plenitude, de Joanna de Ângelis, ela nos dá indicativos, passos a serem mudados para uma libertação. “Porque muitas vezes nos escravizamos ao processo de sofrimento”, afirmou o orador. Segundo ele, a arte de viver está no saber lidar com as adversidades, no saber ceder nos momentos necessários, no saber contrapor. “Se nós nos sentirmos úteis, superaremos as adversidades e nos ligaremos à Espiritualidade Superior”.

Comentou, ainda, que Joanna orienta “esquecer o passado no passado”. Não ficar remoendo situações não resolvidas. Olhar para frente e ter bom ânimo. “O nosso tempo é o hoje! É neste que nós podemos agir. O meu tempo não pode ser conjugado no passado, tem de ser presente do indicativo. É o hoje que eu posso agir. O ontem me trouxe aqui, mas é o aqui (este momento) que me leva para lá (futuro)”, ressaltou.

“Passado é conhecido e imutável. Futuro é desconhecido, porém mutável. Mutável pelas mudanças que fazemos no presente”, adiu Simão Pedro. O passado nos dá experiências, o futuro nos oferta esperança, “é uma cortina que se abre, mas o presente é cordinha da cortina”. A melhor maneira de libertação da dor é o trabalho incessante no Bem hoje.

REVEJA
Ficou curioso para ver o encerramento do Congresso? Acesse aqui então e confira.

Texto: Lílian Reis