O Espírita e a Defesa da Vida

O Espírita e a Defesa da Vida 

Ao espírita consciente, ver a degradação de alguns princípios morais e civilizatórios básicos que foram conquistados com tamanho esforço, apesar de ser compreensível neste momento de transição por que passa a Humanidade, deixa-nos entristecidos. Argumentos ficam vazios com o intuito de proteger ideologias muitas vezes defasadas, mas que afloram na pele como supostos discursos libertadores das pessoas. Assim, a defesa da vida é tida como ofensa à liberdade (principalmente da mulher que defende ser dona de seu corpo, que lhe foi emprestado por Deus, e com ele faz o que bem entende), a liberdade de expressão pode ser tomada como aceitação ao discurso de ódio, a liberdade de opinião diferenciada é vista como intransigência e falta de caráter, e... 

O assunto sobre a defesa da vida desde a concepção pode ser debatido por diversos ângulos, mas o enfoque que se irá abordar é sob o aspecto ético-moral, com uma visão racional, que o espírita deve ter. Nesse sentido, é estarrecedora a defesa que se tem feito do direito de aborto. Impressiona a falta de profundidade dos argumentos, muitos deles não passam de críticas pessoais recheadas de ódio. Reclamam do fundamentalismo religioso daqueles contrários, falam de desejo de impor a opinião e a moral, entretanto as mesmas pessoas que usam esses argumentos estão querendo que os outros engulam em seco o seu posicionamento - muitas vezes defendido simplesmente por ignorância e, por vezes, por escancarada manipulação. 

Muitos defendam o aborto por se tratar de uma escolha da mulher sobre o seu corpo, e estes necessariamente não têm estudos em fisiologia ou biologia para entender o tamanho da incongruência de tal argumento, pois qualquer pessoa que tem o mínimo de conhecimento em ciências biológicas, ou já passou por um curso de genética humana, embriologia e imunologia, sabe que a entidade que está a se desenvolver no corpo da mãe não é uma continuação da mãe, é outro ser, que apresenta código genético distinto do materno. Assim, grande parte dos argumentos pró-aborto vão por terra - sim, por mais que alguém defenda que a mulher faz o que ela quer com o corpo dela, ao afetar aquelas células que não a representam, estará ela atacando um outro ser. Portanto, o julgamento passa a outra esfera, sendo necessário definir se moralmente é aceitável o assassinato de um bebê por livre vontade da mãe, seja qual for o período da gravidez. 

A incoerência é tamanha em nosso país que há lei que defende o ovo de tartaruga e projeto de lei para matar seres humanos em formação. 

Muitos baseiam suas argumentações em falácias que são repetidas diversas vezes por movimentos sociais, em dados inventados por "estudiosos" que extrapolam as mais simples estatísticas, e alguns até em experiências próprias (vendo a dificuldade que foi para um familiar conseguir abortar uma criança indesejada). Infelizmente, em todos os momentos eles relevam aspectos morais para focar apenas em assuntos ditos práticos, enquanto hipocritamente defendem direitos supra-humanos em outros tópicos, relevando quaisquer elementos pragmáticos. 

Existem aqueles que defendem que o bebê, antes do segundo trimestre, por não sentir dor e não ter o sistema nervoso totalmente desenvolvido, ainda não é um ser humano. Que lógica é essa? Se o feto não é um ser humano, por que a partir do primeiro dia do quarto mês de gestação passa a sê-lo? E será que existe algum mecanismo no corpo do bebê em gestação que fala: a partir de zero hora do primeiro dia do segundo trimestre eu passarei a sentir dor, antes disso, não?

O embrião já é humano, assim como o feto e o nascituro. Justificar a sua morte a fim de não prejudicar "o futuro de um dos genitores" ou por escolha deles, é o mesmo que declarar moralmente aceitável um assassinato se ele puder ser respaldado nas mesmas razões (extrapolando significaria que alguém poderia matar o seu concorrente a uma vaga de emprego, ou poderia se livrar do irmão, pois compete pela atenção dos pais e pelos investimentos no futuro). Além disso, se formos colocar apenas o critério não sentir dor, então poderíamos justificar moralmente o assassinato de toda e qualquer pessoa já fora do ventre materno desde que devidamente sedada - para não falar do genocídio daqueles que têm algum problema neurológico e não apresentam respostas completas dos seus receptores nervosos. O mesmo valeria para os assassínios de todos aqueles que são dependentes de ajudas externas (não têm plena autonomia), enquadrando-se nessa categoria várias pessoas deficientes, idosos, pessoas doentes - mesmo que ainda com possibilidade de cura -, entre outros. Isso é moralmente certo? Isso é moralmente condizente com o estado evolutivo em que se encontra a Humanidade? 

A sociedade ocidental evoluiu milhares de anos para chegar a um ponto em que a vida deve ser defendida e protegida. Vivemos situações bárbaras em que gêmeos eram enterrados vivos pois não se sabia qual deles conteria um "demônio", ou em que idosos e deficientes eram sacrificados por representarem um peso para a sociedade - infelizmente, coisas assim ainda acontecem em aldeias indígenas pelo Brasil afora e são defendidas por muitas pessoas usando o princípio do multiculturalismo... Contudo, nós, espíritas, defendemos que nesses milhares de anos de evolução a bagagem moral foi lapidada conforme as situações que foram apresentadas ao longo do tempo ao ser humano. Aprendemos a abominar a escravidão, a defender o direito de justiça e de um julgamento com amplo direito a defesa - em contrapartida à lei de talião; deixou-se de lado os duelos e os sacrifícios e se proclamou uma declaração universal dos direitos humanos. Assim, retroagir para valores morais dos nossos antepassados longínquos é estar na contramão de uma sociedade que busca evoluir, se não sordidez e psicopatia. 

Sim. O espírita luta pela defesa da vida e é contrário à aprovação do aborto.
Sim, a Federação Espirita Brasileira é contrária à cultura da morte, sobretudo daquele que diante da sociedade ainda não tem voz para se defender. 

Conheça o documento que a Feb encaminhou ao Supremo Tribunal Federal, a respeito da proposta de um partido político, quando da discussão junto à sociedade sobre a legalização da interrupção voluntária da gestação até a 12ª semana. 

Conheça a Nota da Associação dos Magistrados Espíritas sobre o aborto: http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/nota-da-associacao-dos-magistrados-espiritas-sobre-o-aborto/