O mundo tem jeito

O mundo tem jeito
André Trigueiro fala sobre a importância de adotarmos hábitos sustentáveis para cuidar do planeta. 

No dia em que a capital do País, Brasília, completou 64 anos, o jornalista, escritor e professor André Trigueiro subiu ao palco do 3o dia do 9o Congresso Espírita do Distrito Federal para falar sobre uma das Leis Morais codificadas por Allan Kardec, a Lei da Destruição. Ela está descrita na pergunta 728 do Livro dos Espíritos, que assim a define: “Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar; porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos. ” Como jornalista, Trigueiro trouxe fatos recentes da realidade para questionar se eles estão ou não previstos nessa Lei.

O uso de agrotóxicos sem controle no Pantanal, os desmoronamentos das barragens de rejeitos em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), ambas em
Minas Gerais, e o recente afundamento do solo em Maceió, Alagoas, por conta da exploração de sal-gema, foram lembrados pelo palestrante. Segundo ele, “não faz sentido que esses fatos possam ser entendidos como sendo exemplos da lei de destruição. ” No caso mineiro, por exemplo, Trigueiro lembrou que a devastação à vida humana e à natureza está ligada a escolhas humanas. “Muitos cuidados que deixaram de existir quando colocaram na pilotagem, não quem entende de mineração, mas financistas. E fazem a conta tentando maximizar os lucros no menor tempo possível”.

Outro acontecimento recente trazido por André Trigueiro foi a pandemia da Covid-19. Ele avaliou que a doença pode ser descrita como um flagelo
destruidor, conceito trazido pela Lei da Destruição. “Nós somos sobreviventes da pandemia”, lembrou. E citou que, segundo a Ciência, doenças como a Covid são zoonoses que podem surgir quando biomas são destruídos e os vírus e patógenos passam a circular sem controle.

Trigueiro argumentou que mesmo a pandemia pode ser fruto do nosso livre arbítrio. “Nós estamos promovendo uma nova onda de destruição das espécies vegetais e animais e não podemos colocar isso na conta de Deus. ”, afirmou. E completou que o aplicativo da nossa consciência nos indica o caminho, mas escolhemos seguir outro menos nobre: “é direito seu, é a lei de causa e efeito. Arcaremos com as consequências, podem ser boas ou ruins. Convém não brigar com a consciência, é bom ouvir a voz que vem de dentro.”

Depende de nós
A palestra também trouxe orientações a serem adotadas por todos para que a humanidade se distancie de um caminho de promoção da destruição
ambiental, como a mudança de hábitos alimentares para diminuir o consumo de carne. Trigueiro lembrou que apenas no ano passado, o Brasil produziu mais de 30 milhões de toneladas de proteína animal, segundo o IBGE. Só de frango, foram abatidos 15 milhões por dia.

Para André Trigueiro, há várias razões para o espírita se esforçar para rever o consumo desses alimentos. O primeiro é o sofrimento animal das cadeias
produtivas. Em seguida, a pressão sobre os recursos naturais que esse mercado impõe. Mas também tem a questão espiritual: “à medida que vamos evoluindo, nosso corpo vai se desmaterializando, se tornando menos denso. A gente vai necessitando de menos alimentos grosseiros, pesados e tóxicos”. “No mundo de regeneração haverá consumo de carne, mas churrascaria rodízio, não”, brincou.

Além disso, é preciso rever o consumo de plástico, material poluente que demora séculos para se decompor. O jornalista aconselhou a cada espírita a
levar sua própria garrafinha de água quando for às palestras ou aos tratamentos nas casas espíritas.

E finalizou lembrando a responsabilidade de todos: “que a gente possa sair desse congresso, como dizia Orodico Paraguaçu, na novela o Bem-Amado, de Dias Gomes, com a alma lavada e enxaguada, prontos para adotar alguma mudança na nossa rotina, por menor que seja, na nossa alimentação, na gestão dos resíduos, nos hábitos de consumo ou na maneira como a gente se determina metas e prazos para resolver questões que conflitam com a saúde planetária. É a nossa casa, o que tá fora tá dentro. Cuide do planeta como você cuida da sua casa. ”


Antonio Trindade, jornalista espírita