Todo dia 1º de janeiro, há 58 anos, é comemorado o Dia Mundial da Paz. A data foi instituída pelo Papa Paulo VI e, desde sua criação, o Vaticano divulga uma mensagem especial para promover a conscientização sobre a importância da paz como um bem universal e indispensável para o progresso humano e a dignidade de todas as pessoas. A ideia central é inspirar nações, comunidades e indivíduos a trabalharem pela paz com base nos princípios de respeito, diálogo e solidariedade. O Dia Mundial da Paz é também uma oportunidade para os líderes religiosos e espirituais reforçarem a importância da paz interior e da prática do amor e da fraternidade como caminhos para a harmonia social.
A mensagem de 2025 do Papa Francisco, "Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz", enfatiza a importância do perdão e da reconciliação como caminhos fundamentais para alcançar a paz verdadeira, que vai além das mesas de negociações ou das querelas contratuais. O Papa sugere que a humanidade procure a verdadeira paz que é dada por Deus a um coração desarmado. E explica que desarmar o coração é não diferenciar o que é seu ou do outro, é dissolver o egoísmo e estar aberto para perdoar dívidas que oprimem o próximo, é “um coração que supera o desânimo em relação ao futuro com a esperança de que cada pessoa é um bem para este mundo”. Por vezes, ações simples como um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera ou um serviço gratuito são suficientes para se aproximar da paz, destaca a mensagem.
O Papa propõe três gestos concretos das nações para o alcance da paz: o compromisso com a Justiça econômica global de perdoar ou reduzir as dívidas dos países mais pobres, a abolição da pena de morte e a criação de um fundo global para erradicação da fome e combate às desigualdades e às mudanças climáticas. Por fim, o Papa Francisco convoca a humanidade à conversão pessoal e comunitária, com corações desarmados, generosidade e construção de um mundo baseado na justiça, paz e esperança.
A mensagem de tolerância, de fraternidade e de conversão pessoal é um chamado à edificação da paz que a humanidade deseja, mas que pouco a promove. Na psicografia de Chico Xavier, em “Palavras de Vida Eterna”, nos capítulos 45 e 46, Emmanuel reflete que a nação é um conjunto de cidades, a cidade é um agrupamento de lares e cada lar, um ninho de corações. Desta forma, a harmonia da vida começa no íntimo das almas, na luta pela melhora e educação íntima.
Paradoxal falar em paz interior e em luta para alcançá-la, quando se lembra que o mundo conta um número significativo de conflitos armados, atingindo níveis não observados desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com o Índice Global da Paz de 2024, há 56 conflitos em andamento, afetando 38 países. Além disso, um relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) reconhece a existência de 134 conflitos pelo planeta.
Mas, se o planeta grita pela paz, como encontrá-la já que o mundo acumula um arsenal bélico cada vez maior e conflitos em várias nações?
Raul Teixeira considera em “Ante o Vigor do Espiritismo” que a Paz tem sido buscada de forma equivocada por meio de assinatura de documentos e acordos governamentais. “Enquanto essas coisas ocorrem estamos vivendo em guerras de extermínio, muitas vezes dentro do próprio lar”, considera.
“A grande guerra que destrói e apavora distante ou próxima de nós é a guerra que começa no descompasso dos casais, dentro de casa, no trânsito, na violência entre pais e filhos, no desrespeito entre irmãos, na traição entre amigos. É tudo isso que se faz que envolve a criatura humana nesse plasma vibratório, nessa energia ou nesse fluido, que vai nutrir muitas cabeças belicosas que estão chefiando os povos no mundo. Dessa maneira, para que nós, de fato, atinjamos a paz, não será necessário assinar documentos. Será necessário assumirmos compromissos com nós mesmos de realizá-la”, explica Raul no capítulo 52.
A paz no mundo exterior é reflexo da paz que cada pessoa cultiva dentro de si mesma. Jesus disse, “a minha paz vos dou” (João, 14:27), e, nas palavras de Emmanuel, “para que a paz se faça, é preciso que, à custa de nosso próprio esforço, se faça paz em nós, a fim de que possamos irradiá-la, em tudo, no amparo vivo aos outros”.
Paz não é inércia e sim esforço, devotamento, trabalho e vigilância incessantes a serviço do bem.
Por Concita Varella,
Jornalista Espírita